Chega o período de férias é normal separarmos um tempo para olhar as roupas que não nos servem, e a de nossos filhos também. Durante o semestre é difícil pararmos para fazer algo que parece ser tão trivial, mas que no fundo guarda uma certa importância, já que promove algumas reflexões.
Desapegar daquilo que parece não nos caber mais pode ser um desafio. Porque os objetos parecem dar um sentido para as nossas vidas. Tem um poema do Fernando Pessoa que já escutei várias vezes e acredito que cabe para esta nossa reflexão:
Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas
Que já tem a forma do nosso corpo
E esquecer os nossos caminhos que
nos levam sempre aos mesmos lugares
É o tempo da travessia
E se não ousarmos fazê-la
Teremos ficado para sempre
À margem de nós mesmos.
Pelas minhas pesquisas, este é um poema bastante conhecido de Pessoa. E claro que ele não se limita só ao abandono das roupas usadas, é possível aplicar os versos a qualquer situação, desde a mais cotidiana até aquela que parece ser decisiva nas nossas vidas. Travessia parece sempre nos lembrar de algo que é árduo, difícil de se fazer. Uma ação que exige coragem, mas que se faz necessária às vezes.
Quando encerramos um ciclo entramos nessa fase de travessia, que nos exige disponibilidade para aprender coisas novas e mudar comportamentos e ideias que não cabem mais. Sartre, um filosofo existencialista, diz que o sentido da nossa vida está na ação. O homem só existe quando age. Portanto, nós somos sempre movidos à uma ação que, portanto, exige coragem e que também terá consequências. Viver não é fácil, fazer escolhas não é fácil, agir em direção a algo que parece imenso também não é fácil. Mas é com um passo de cada vez que chegamos lá, né?