domingo, 6 de agosto de 2023

É tempo de travessia

Chega o período de férias é normal separarmos um tempo para olhar as roupas que não nos servem, e a de nossos filhos também. Durante o semestre é difícil pararmos para fazer algo que parece ser tão trivial, mas que no fundo guarda uma certa importância, já que promove algumas reflexões.

Desapegar daquilo que parece não nos caber mais pode ser um desafio. Porque os objetos parecem dar um sentido para as nossas vidas. Tem um poema do Fernando Pessoa que já escutei várias vezes e acredito que cabe para esta nossa reflexão:

Há um tempo em que é preciso

abandonar as roupas usadas

Que já tem a forma do nosso corpo

E esquecer os nossos caminhos que

nos levam sempre aos mesmos lugares

É o tempo da travessia

E se não ousarmos fazê-la

Teremos ficado para sempre

À margem de nós mesmos.

Pelas minhas pesquisas, este é um poema bastante conhecido de Pessoa. E claro que ele não se limita só ao abandono das roupas usadas, é possível aplicar os versos a qualquer situação, desde a mais cotidiana até aquela que parece ser decisiva nas nossas vidas. Travessia parece sempre nos lembrar de algo que é árduo, difícil de se fazer. Uma ação que exige coragem, mas que se faz necessária às vezes.

Quando encerramos um ciclo entramos nessa fase de travessia, que nos exige disponibilidade para aprender coisas novas e mudar comportamentos e ideias que não cabem mais. Sartre, um filosofo existencialista, diz que o sentido da nossa vida está na ação. O homem só existe quando age. Portanto, nós somos sempre movidos à uma ação que, portanto, exige coragem e que também terá consequências. Viver não é fácil, fazer escolhas não é fácil, agir em direção a algo que parece imenso também não é fácil. Mas é com um passo de cada vez que chegamos lá, né? 

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Solidão

Estado de quem se acha ou vive só. 

Vocês já curtiram a solidão? Desde ontem, depois de muitos anos, me vi sozinha em casa. Pensar que durante a pandemia essa casa esteve cheia, e que antes e depois desse período horrível pessoas entraram e saíram dela com frequência, me fez curtir esse momento.

Consegui revisitar todos os lugares que vivi desde a infância, e pude ver que as coisas foram se transformando junto comigo. Novas coisas foram adquiridas e o espaço se tornou pequeno ao ponto se incomodar quem vive comigo. Mas a beleza está justamente nesse acúmulo que não é só material, mas também afetivo.

Nós vivemos em uma sociedade em que a mercadoria é o centro. Compramos nossa comida, a energia que nos ilumina e faz esse computador funcionar, nossas roupas, nossos livros, nossos CDs e DVDs. Enfim, tudo isso não só está repleto das substâncias que os formaram, mas também das memórias que carregamos com esses objetos.

Poder abrir a janela sem medo dos pernilongos entrarem e fumar um cigarro me fez sentir mais parte de mim. Comer brigadeiro durante a madrugada assistindo uma série que me deixou nostálgica. Dormir e acordar sem hora certa. Sair às duas da tarde para ir à feira e comer um pastel. Passear pelas bancas de frutas, legumes e verduras e escolher algo que eu tivesse vontade. Lavar roupa e louça. Estender a roupa e guardar a louça já seca. Ver vídeos enviados por algoritmos desconexos. Sim, fiz tudo isso e um pouco mais porque era aquilo que eu queria fazer.

Ainda tenho um dia para aproveitar a minha própria companhia. Sempre escutei que a solidão era algo terrível mas, pelo menos nesse curto período, percebi que não é tão ruim assim. Até necessário posso dizer. Numa cidade grande ás vezes é impossível estar só, acredito que é isso que está me fazendo valorizar tanto esse momento.

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Tava pensando aqui...


como as coisas poderiam ser mais simples. Parece que congelei o tempo e voltei com tudo muito diferente. As relações e o mundo do trabalho estão mais difíceis, por exemplo. Chegando aos 30 venho percebendo que gosto mesmo é das coisas que me fizeram felizes aos 16: ler em qualquer canto, ouvir música junto com os amigos, ir em shows da banda mais legal com ingressos que ganhei no rádio, etc.

A gente muda o tempo todo, mas sinto que as coisas estão mudando tão rápido que tudo escorre pelos meus dedos. Ás vezes parece que as pessoas querem que eu viva tudo em um minuto, mas o que quero é sentir o gosto das coisas devagar, sem ansiedade. Quero boa companhia, falar das coisas mais simples e nos momentos tristes poder desabafar. 

Parece que sou muito ocupada, mas acho que busco mesmo momentos de refúgio para entender o que estou sentindo. Um terapeuta que gosto muito me disse que tudo que quero é muito simples e que não preciso ter medo do futuro. Mas a partir dos 22 o futuro assumiu uma certa urgência, afinal, não vivo só para mim. Parece que o caos da minha geração está nos boletos a serem pagos, mas acho mesmo que o problema está em tudo ser tão fluido.

Escrever é uma boa prática que larguei com o tempo, minha profissão exige uma formalidade que não cabe mais na vida que tenho hoje. Não que eu não curta o que faço, mas será que tudo tem que ser nas leis da ABNT? Enquanto educadora, sigo repetindo aos meus alunos que quero saber a opinião deles sobre o que estou ensinando, mas até que ponto eu os permito escreverem com liberdade? 

A vida me ensinou que não temos que seguir um roteiro, ás vezes é bom parar e refletir se aquilo que está acontecendo faz sentido para a pessoa que sou hoje. Somos a soma das experiências vividas, e sinto que o processo de desconstrução ás vezes é muito árduo, mas é necessário. O quanto do meu passado define a pessoa que sou hoje?

É tempo de travessia

Chega o período de férias é normal separarmos um tempo para olhar as roupas que não nos servem, e a de nossos filhos também. Durante o semes...